Ai que vontade de chorar !
chorar por mim , choras por vós , transformar em água viva o que corre nos meus caminhos !
Chorar de alegria ! Chorar todo o riso dos amantes que ouvem um sim !
Chorar todo o riso do pai que vê prole feliz !
Chorar o riso misto do medo de palhaço da menina!
Chorar um tsunami , a perda , o fogo !
Pela beleza , pelo fim do dia , pela poesia !
Chorar por Hemingway , pela turquesa Elizabeth que esvaneceu .
Brincar de chorar pra te enganar!
Brincar de chorar até engasgar!
Como bom menino , engolir o choro! prender lá dentro !
Sentir seu tormento , chorar pelo dinheiro ...
O que veio e já partiu , o que nunca apareceu , e aquele que mentiu
Chorar por todos
Doar lágrima pra caridade , carpideira que nem existe mais!
Lavar meu rosto , meu colo , minha alma !
Chorar por aquele que não se permite dançar !
ser a lágrima do bêbado pra esquecer
do artista ao ver a sua obra viver!
Chorar pelos meus irmãos , de Deus a maior criação !
lamento do índio , o arrependimento do assassino !
Conjugar o verbo mais molhado
chorar em todas as pessoas , e ainda assim ser singular!
Pelo medo de esquecer
medo de crescer
de raiva do poder!
Pelo dente do juízo a nascer !
Ser minha avó em sua despedida , chorar de lá de cima !
Como São Pedro lavar a Terra
de lághrima de dor ou de contentamento !
Mas chorar , chorar , e chorar ...
Obrigada Shakespeare , lágrimas pra vc !
Oxum , Helena e os amantes de Áquila !
chorar ao descobrir a cura
daquilo que outrora me machucava !
Chorar por ainda amar!
por buscar a verdade !
por sentir saudade ...
por perseverar !
sábado, 26 de março de 2011
Pelo que eu choro?
Postado por Renata Ricci às 04:14 2 comentários
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terça-feira, 8 de março de 2011
Baile de outrora!
Se o Carnaval fosse pessoa e Renata que vos fala fosse doutora , aqui estaria o diagnóstico : Sr. carnaval ...o senhor é bipolar!
Agora lhes contarei minha história ...qualquer semelhança com a sua realidade não será mera coincidência!
Já te disse que gosto de Carnaval ?? Acho que não ....não sei ...então direi : gosto !
Venho de família festeira , fantasieira , boemeira!
Na minha matemática infantil , do Reveillon pra lá era uma semana! depois Páscoa , colada do meu aniversário , logo férias ... mais um mês com dois feriados e já era Natal ... Ok , pela minha conta o ano durava , no máximo , uns 2 meses rs!
Então , eu emendava a festa do branco-roupa-nova com o Carnaval , a festa do colorido-fantasia-nova!
Lembro-me bem de todas as roupas que eu usava em datas importantes pra mim ... E neste dia , marcado como o fim de uma era-mas também chamado de "Como eu descobri a tristeza"- eu usava uma roupa de indiazinha de penas vermelhas inesquecível !
Lá estava eu , rindo tudo que podia e a recolher confetes e restos de serpentina com meu irmão Zorrinho , quando , por algum motivo , uma das marchinhas entoadas pela banda ecoou na minha mente! Um lacre se rompeu quando meu cerébro atentou ao que a velha conhecida canção me dizia : Jardineira ...triste ... O que aconteceu? ...camélia , queda , suspiro e morte! ...e o desfecho : tu és muito mais bonita !
Uma pontada acertou meu peito tão em cheio que deixei escapar uma serpentina quase intacta - a mais valorizada pela criançada !
Naquela época meu conhecimento sobre flores deveria se resumir a rosas e margaridinhas ... Na verdade , pra mim , haviam apenas três flores no mundo : rosas , margaridas e trevos (quem diria que não era flor ...?) . Fato este que me orientou na interpretação da canção .
Pensei eu comigo e minha fantasia que ainda cheirava a puleiro tingido : Uma moça aventureira , que gostava de trepar em galhos , chamada Camélia , não prestou atenção , debruçou-se num galho fraquinho e , de cima da árvore despencou e morreu. Sua melhor amiga , a qual eu não sabia o nome , presenciando a cena ,muito chora com o momento fúnebre . Eis que um curioso , galanteador , pergunta : Como podes estar tão triste ? Ok , ela suspirou acolá , morreu mesmo ...C'est fini! Mas tu és muuuuuuuuuuuuuito mais bonita que a Camélia ... Por isso , vc terá o mundo em suas mãos !
E eu chorei ...chorei ...chorei ...! senti a dor da Jardineira ...como se fosse minha ! Até visualizava Camélia , moça aloirada e morta , num belo gramado verde!
Enquanto a banda repetia os versos , mais raiva sentia daquele moço insensível ! Que vinha me falar de beleza física ante a morte de minha melhor amiga(ali eu já era a própria Jardineira).
Esta foi a primeira vez que senti vontade consciente de dizer : Parem o mundo! Eu quero descer !
Esta foi a primeira vez que eu poderia ter tomado um porre ...e tomei ! Com olhinhos marejados , para os adultos em volta manha sem motivo algum , pedi logo 2 guaranás! e me engaseifiquei até engasgar a dor presa na garganta!
Amuada , confinada num cantinho escuro do salão , percebi que agora todas as canções do mundo já não eram mais apenas canções ...eram histórias :ora de amor ora de dor!Por vezes me fariam rir , noutras me fariam pensar!
De repente percebi o baile mais vazio!
De repente notei que os adultos não estavam se divertindo tanto assim !
De repente entendi pq naquela festa se bebia tanta cerveja !
E a banda entoou :Riso,alegria,palhaços no salão ! Arlequim , chora Colombina , e multidão! Faz tempo , máscara negra , saudades! Beijar-te , não leve a mal ....Carnaval!
Desta vez solucei !
A quarta-feira , naquele ano , chegou mais cedo pra mim !
E , a partir deste dia .... depois daquela estranha terça , eu achei meu espelho interno!
Ali refletida vi , pela primeira vez , a água na beira da minha risada!
Sai pela porta como quem não quisesse mais voltar!
E não quis ...até o ano que veio.
Surpresa: desta vez a matemática era outra , e , entre este Carnaval e o novo ,pasmem ...12 meses se passaram!
Postado por Renata Ricci às 05:56 1 comentários
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